DICA DE LEITURA: OS 70 AUSENTES DE PEDRA BRANCA, Cláudio Feldman

 

 A cada conto de Os 70 Ausentes da Pedra Branca, Cláudio Feldman - Editora Taturana -  ergue uma pequena coroa fúnebre. São narrativas curtas, mas que carregam um impacto que ultrapassa suas poucas linhas. Cada história termina onde também termina o personagem — sempre na última frase — oferecendo ao leitor uma dupla morte: o fim da narrativa e o inevitável silêncio deixado pelo passamento.

 A cidade de Pedra Branca, cenário de todos esses falecimentos, se instala com naturalidade na retina do leitor. Há humor? sim — mas um humor que se equilibra entre o absurdo, o grotesco e a poesia.

 As ilustrações, sempre marcadas pelo tom vermelho, não são apenas complementos visuais: são uma extensão do sangue que escorre pelas páginas e reforçam o pacto entre texto e leitor, lembrando o tempo todo de que, naquele universo, ninguém termina em pé.

 Ler Os 70 Ausentes da Pedra Branca é entrar em um ritual literário onde cada conto é uma despedida súbita, Feldman transforma a morte em ritmo, e a cidade — tantas vezes ausente — permanece viva justamente por causa de suas perdas.

[Cláudia Brino]